Uma cena comum ao entrar numa 240 lojas da Sodiê Doces é ver a Cleusa Maria da Silva, fundadora de rede, conversando com os franqueados.
Ela não mede esforços para manter o padrão e a qualidade dos bolos servidos. Viaja do Nordeste ao Sudeste para esses encontros – quase sempre de carro porque tem medo de andar de avião.
Cleusa é uma dessas empreendedoras que não consegue ficar longe do trabalho. Começou muito cedo: aos nove anos já trabalhava para ajudar a família. Com orgulho, conta que foi cortadora de cana e empregada doméstica.
O talento para fazer bolos foi descoberto por acaso. Na época, ela era operária de uma indústria em Salto, no interior de São Paulo. A mulher de seu chefe fazia bolos e, ao quebrar o pé, pediu para Cleusa ajudá-la com uma encomenda.
A habilidade da ex-boia-fria surpreendeu a doceira. E após essa primeira experiência, convidou Cleusa para atender aos próximos pedidos de suas clientes.
Como operária, ela ganhava um pouco acima do salário mínimo e não tinha dinheiro para comprar uma batedeira. A esposa de seu patrão a ajudou com esse primeiro gasto.
Nos dois primeiros anos, Cleusa se dividia entre a jornada na indústria e as madrugadas no fogão. Trabalhava quase 20 horas todos os dias.
Em 1997, abandonou a vida de operária e fundou a primeira loja Sodiê – uma união dos nomes de seus filhos Sofia e Diego. O primeiro imóvel tinha apenas 20m². A própria empresária fazia os bolos, atendia os clientes e controlava no caixa.
OBSTÁCULOS VENCIDOS
Os primeiros anos foram difíceis. A falta de dinheiro e experiência prejudicava o andamento do negócio. Mas Cleusa nunca se rendeu. Trabalhou durante cinco anos todos os dias da semana – sem folgas ou férias. Ela mesma ia de ônibus comprar os ingredientes para os doces no mercado.
Criou sua própria receita e novos sabores. Tanto esmero compensou: cada vez mais clientes apareciam em sua doceria, por conta da propaganda boca a boca. Alguns vinham da capital paulista só para provar os deliciosos bolos feitos na pequena loja de Salto.
“Sou uma pessoa muito crítica. Nunca estava satisfeita”, afirma Cleusa. “Eu podia manter a receita e me contentar com clientela da esposa do meu chefe, mas decidi buscar todos os dias, incessantemente,o crescimento da Sodiê.”
O sucesso ela atribui a coisas simples, como uma receita de bolo: produtos de qualidade com um bom preço, gastos menores que os ganhos (tanto na vida pessoal quanto na gestão da empresa) e uma administração eficiente.
REDE DE FRANQUIAS
A ideia de montar uma rede de franquias surgiu dez anos depois da fundação da primeira loja.
Assim como quase tudo na trajetória de Cleusa, a oportunidade apareceu por acaso. Um cliente – que vinha de São Paulo para comprar os bolos – sugeriu que ela montasse uma franquia na capital.
Na época, a empresária desconhecia essa palavra, mas decidiu se informar. Fez um curso na Associação Brasileira de Franquias e seguiu a risca todas as recomendações.
O primeiro franqueado foi justamente o cliente que havia sugerido o modelo de expansão. Nos dois primeiros anos foram inauguradas mais de 50 lojas.
“Tive dúvidas se o negócio ia dar certo”, afirma Cleusa. “Minha preocupação era que nenhum de meus franqueados perdesse o dinheiro investido. Não pela marca, mas pelo prejuízo que essa pessoa teria.”
Hoje, a Sodiê Doces tem um plano de expansão consolidado: são 240 lojas espalhadas pelo país – e mais quatro serão inauguradas até o fim do ano.
A seleção dos fraqueados é feita tanto por critérios financeiros como também pela análise da personalidade do candidato.
Cleusa acredita que para ser um dos franqueados, o candidato deve ter vontade de empreender, e não apenas investir em algo rentável. ”É alguém que quer trabalhar de verdade porque é fundamental estar presente todos os dias e cuidar de todos os detalhes”, diz.
Ela mesma dá o exemplo. Além de visitar constantemente as lojas, seu celular está sempre disponível para todos os franqueados.
Nos últimos meses, a Sodiê tem sentido os efeitos da crise. O número de candidatos a novas franquias caiu e, em setembro, as vendas tiveram queda de 10%.
Mesmo com os números negativos, na avaliação de Cleusa, a Sodiê está passando bem por essa crise.
A empresa está investindo em campanhas publicitárias em grandes redes de TV. Outra medida foi contratar um consultor financeiro para orientar os fraqueados e renegociar com os fornecedores para garantir os melhores preços.
“O país depende de gente que trabalha – e não de quem cruza os braços e fica pensando na crise. O Brasil vai sair dessa sem maiores problemas”, diz Cleusa.
FUTURO
Em 2016, Cleusa pretende dar mais um grande passo. Ela vai inaugurar a Universidade Sodiê Doces para melhorar o treinamento dos franqueados e funcionários. O endereço ainda não está definido, mas será na cidade de São Paulo.
O exemplo veio das lojas de sapato da marca Arezzo. Cleusa ficava impressionada com a simpatia e bom atendimento dos vendedores. Pesquisou e ficou sabendo sobre os investimentos que empresa de calçados faz em treinamento.
O projeto da Universidade Sodiê é funcionar como uma escola: primeiro é passar o conhecimento e depois repetir até que tudo seja assimilado.
“Um bom atendimento faz como que uma pessoa volte numa loja”, diz Cleusa. “E hoje, a Sodiê não tem o atendimento que eu gostaria. ”
Está nos planos da empresária para o próximo ano também a expansão da marca para o exterior. O pedido veio de alguns franqueados que desejam empreender em outros países.
A Sodiê está resolvendo questões burocráticas para conseguir uma autorização para liberar o uso de alguns produtos. Assim que essas pendências forem resolvidas, as primeiras lojas serão inauguradas. A ideia de Cleusa é levar os bolos com pequenas adaptações na receita.
Aos 49 anos, a fundadora da Sodiê tem hábitos simples: nas poucas horas que não está trabalhando, gosta de ficar com a família, ir para a praia, ler livros e se manter bem informada.
Ela começa a pensar em aposentadoria. E para isso, treina seu filho Diego Rabaneda para substituí-la nos negócios. “Ele está do meu lado o tempo todo e está aprendendo muito com o dia a dia da empresa”
Fotos: Divulgação
Diário do Comércio