Ao ver o faturamento da sua empresa cair 96% em menos de dois anos, passando de R$ 660 mil em meados de 2013 para R$ 29 mil por mês no início de 2015, o empresário José Luiz D’Angelino Filho, 40, se viu diante de um dilema: mudar o perfil do negócio que fundou há 13 anos ou encerrar as atividades antes de ficar endividado.
Ele escolheu a primeira opção. Sua empresa, a CTI Golden, com sede na Mooca, em São Paulo, deixou de ser distribuidora de lâmpadas para lojistas e passou a apostar em produtos de fabricação própria, como luminárias de alta potência para grandes espaços e pendentes automotivos (usados em consertos de carros). Com isso, está conseguindo se reerguer e faturar cerca de R$ 200 mil mensais.
As dificuldades começaram há cerca de dois anos, segundo D’Angelino Filho, por causa da concorrência com produtos chineses. “A facilidade em importar lâmpadas da China aumentou a competição. Antes, eu comprava de um importador, colocava minha margem e distribuía para os lojistas. Para não perder mercado, o importador passou para a venda direta, atropelando os distribuidores.”
A queda na receita obrigou o empresário a reduzir sua equipe. Passou de 15 funcionários para seis em um ano e meio. “Quando meus funcionários mais antigos vieram perguntar se deveriam começar a procurar outro emprego, percebi que era hora de tomar uma decisão”, diz. “Tive que redirecionar o pouco capital que tinha para fazer uma nova aposta”, declara.
Problema pessoal mostrou caminho alternativo
Em um ano, ele afirma ter desenvolvido cerca de 30 produtos, a maioria à base de LED (único componente que é importado). Os produtos são desenvolvidos e fabricados pela CTI Golden, que criou uma linha específica para os itens de marca própria, a Super Safe. Por terem mais de 80% de composição nacional, os itens têm acesso a financiamento do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social).
A alta do dólar também tem ajudando a impulsionar o negócio, segundo o empresário. “O dólar alto fortalece a indústria nacional. Além disso, com o aumento na conta de luz, as pessoas estão preferindo o LED, que é mais econômico.” Mas ele diz que não tem força comercial para vender no Brasil todo. Por isso, fez parcerias com os fornecedores de peças para que revendam seus produtos.
O empresário afirma que o mais difícil não é executar a mudança, mas tomar a decisão de mudar. “É admitir que você tem um negócio que dava certo e não funciona mais. É uma quebra de paradigma largar tudo o que você fazia antes para tentar salvar a empresa de um jeito diferente”, diz. Segundo ele, a empresa ainda tem R$ 400 mil de mercadoria encalhada.
Acompanhar indicadores é fundamental para sobreviver
Júlio Tadeu de Alencar, consultor do Sebrae-SP (Serviço de Apoio à Micro e Pequena Empresa de São Paulo), diz que é comum que as empresas precisem se adaptar às novas realidades do mercado. Segundo ele, a melhor maneira de saber se é hora de mudar é acompanhando os indicadores do negócio.
“Toda empresa precisa de controle. O empresário deve analisar constantemente os dados de faturamento, lucro e o grau de endividamento do negócio. Ele precisa imaginar a empresa daqui a seis meses, daqui a um ano, para saber como vai sobreviver”, afirma.
Segundo o consultor, é importante comparar os números da previsão de desempenho da empresa com os números reais. Se não baterem, é hora de se perguntar se o problema está no mercado ou se é interno.
Saber qual é a percepção dos clientes e do mercado sobre o seu negócio e conhecer as ameaças que pairam sobre ele pode ajudar a indicar caminhos alternativos. “O verdadeiro empreendedor vê oportunidades onde há problemas. Às vezes, o empresário está tão acomodado que deixa de perceber essas oportunidades.”